A música no corpo e cérebro humano: Implicações práticas e teóricas das descobertas recentes

Editorial Kovver | Tempo de leitura:

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A música tem sido um componente central da experiência humana, remontando às primeiras civilizações. A nossa conexão com a música transcende o prazer auditivo; ela ecoa em nossos corpos e mentes, criando um impacto profundo que só agora estamos começando a entender totalmente. Nosso editorial se baseia em pesquisas recentes que desvendam as complexas relações entre tocar um instrumento musical e seus efeitos na saúde e bem-estar humanos.

Tocar um instrumento musical é uma atividade complexa que demanda coordenação, precisão e criatividade. Miendlarzewska e Trost (2013) destacam que esta atividade envolve várias regiões cerebrais, incluindo aquelas responsáveis pela audição, movimento, emoções, memória e até mesmo visão. Esta rica rede de conexões estimula a plasticidade cerebral, melhorando a conectividade entre diferentes áreas cerebrais.

Este fortalecimento da conectividade cerebral tem sido associado a uma série de benefícios cognitivos. Estudos sugerem que tocar um instrumento pode melhorar a memória, habilidades de resolução de problemas e funções executivas, habilidades críticas para o sucesso em muitos aspectos da vida (Miendlarzewska & Trost, 2013).

Além disso, tocar um instrumento pode ter um efeito protetor contra o declínio cognitivo associado à idade. Hanna-Pladdy e MacKay (2011) encontraram que os músicos tendem a experimentar menos degeneração nas áreas do cérebro associadas à audição e à memória, o que pode contribuir para uma melhor qualidade de vida à medida que envelhecem.

Koelsch (2014) também examinou as emoções evocadas pela música, descobrindo que a música pode desencadear uma variedade de respostas emocionais que são refletidas em padrões específicos de atividade cerebral. Isso sublinha a importância da música não apenas para a cognição, mas também para a saúde emocional.

Por fim, a música parece ter benefícios para o corpo além do cérebro. Fancourt, Ockelford e Belai (2014) revisaram os efeitos psiconeuroimunológicos da música, encontrando que a música pode diminuir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, e possivelmente melhorar a função imunológica.

Em uma época em que os desafios à nossa saúde mental e física são mais presentes do que nunca, a importância de buscar intervenções naturais e acessíveis não pode ser subestimada. Neste contexto, tocar um instrumento musical emerge como uma atividade potencialmente poderosa para a promoção da saúde humana.

Essas descobertas lançam luz sobre as conexões ainda pouco exploradas entre a arte da música e a ciência da saúde, proporcionando uma base sólida para futuras pesquisas e uma nova compreensão da importância do envolvimento com a música. Encorajamos a integração deste conhecimento nas práticas educacionais e de saúde, para que possamos todos tocar uma melodia mais harmoniosa para a saúde e o bem-estar de todos.

Estudos futuros podem continuar a investigar as relações entre a música e a saúde humana, fornecendo mais detalhes sobre como diferentes tipos de música e diferentes formas de engajamento musical podem afetar o corpo e a mente. Podem ainda explorar o potencial terapêutico da música, seja no tratamento de condições de saúde mental, como depressão e ansiedade, ou na promoção de recuperação e reabilitação em condições de saúde física.

Além disso, o ensino da música e a promoção do engajamento musical em escolas e comunidades pode desempenhar um papel importante na promoção da saúde e do bem-estar. À medida que aumentamos nossa compreensão do impacto da música na saúde humana, é nossa responsabilidade como cientistas, educadores e defensores da saúde, compartilhar essas descobertas com o público e trabalhar para incorporar a música em nossas estratégias de promoção da saúde.

No final, ao abraçarmos a música como uma ferramenta de saúde e bem-estar, podemos não apenas tocar belas melodias, mas também ajudar a orquestrar uma melhor qualidade de vida para todos. É nosso desejo que este trabalho inspire mais investigações, colaborações e inovações no fascinante cruzamento entre música, neurociência e saúde.

Referência:

  1. Miendlarzewska, E. A., & Trost, W. J. (2013). How musical training affects cognitive development: rhythm, reward and other modulating variables. Frontiers in neuroscience, 7, 279. doi: 10.3389/fnins.2013.00279.
  2. Hanna-Pladdy, B., & MacKay, A. (2011). The relation between instrumental musical activity and cognitive aging. Neuropsychology, 25(3), 378. doi: 10.1037/a0021895.
  3. Koelsch, S. (2014). Brain correlates of music-evoked emotions. Nature reviews. Neuroscience, 15(3), 170–180. doi: 10.1038/nrn3666.
  4. Fancourt, D., Ockelford, A., & Belai, A. (2014). The psychoneuroimmunological effects of music: A systematic review and a new model. Brain, behavior, and immunity, 36, 15–26. doi: 10.1016/j.bbi.2013.10.014.
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